A Crista de Galo

Os Pastéis de Toucinho, também conhecidos por pastéis de Vila Real e, mais recentemente, por Cristas ou Cristas de Galo, são uma criação das monjas do Convento de Nossa Senhora do Amparo da Ordem de Santa Clara e certamente uma das espécies mais representativas da doçaria conventual vila-realense.

O nome Crista de Galo vem da forma de massa estaladiça, dentada para facilitar a junção das faces que cobrem o finíssimo recheio de “toucinho do céu”. Foi assim “moldada” na linguagem popular, e chegou aos nossos dias nesse conhecimento e denominação.

Doce de festa pelo labor e qualidade, não era um “pitéu” de todos os dias, embora houvesse nesses tempos, muita amêndoa e farinha. Ovos também, garantidos em qualidade e frescura por capoeiras bem recheadas e tratadas.

Os Pastéis de Toucinho (Cristas de Galo) eram consumidos no convento na 5ª feira gorda (a seguir ao carnaval) e confecionados igualmente nos momentos em que distribuíam as «obrigações» que o convento teve e manteve ao longo de toda a sua existência, e estavam consignadas por escrito.

Na véspera da festa de Santa Clara, no sábado de Ramos e no dia do patriarca da região de S.Domingos (que tinha um convento em Vila Real), saíam as criadas do convento com enormes tabuleiros, caixas e malgas, a fazer a distribuição dos pastéis e outras especialidades pelos elementos do Senado Municipal, pelas justiças, pelos serventuários do convento (médico, sangrador, capelão, acólitos, sacristão, pregador da Quaresma, procurador), pelo prior de São Domingos, pelo boticário, serralheiro, cerieiro, marchante, ouvidor, juiz de fora, vigário-geral, síndico e mais justiças que na ocasião se achassem em Vila Real.

Foi de resto através destas criadas, à medida que os conventos encerram ou perdiam importância, que os segredos e receitas vão passando para as casas particulares. Torna-se assim possível encomendar e adquirir no exterior parte destas especialidades conventuais.

Há 80/100 anos, a receita dos pastéis de toucinho era partilhada por alguns, poucos, fabricantes particulares onde podiam ser adquiridos. Aqui nasce o fabrico da atual Crista de Galo na Familia através da D.Miquelina Cramez, D.Alzira Cramez, Sr. Artur Cramez e Álea Zita Cramez.

Adaptado de pesquisa histórica de Juvenal Cardápio e livro de receitas do museu de Vila Real